Negócios mal concluídos e deliberações ilógicas de assembleias decorrem de falta de reflexão e desconhecimento
Ao participar de várias reuniões no decorrer de mais de três décadas de trabalho na área imobiliária, seja como advogado, consultor na compra, locação ou em assembleias de condomínio, percebo o vício das pessoas tratarem assuntos de grande complexidade de maneira simplista, sem analisar as reais motivações, particularidades e consequências. Simplesmente, opinam com base no senso comum, sobre questões que envolvem valores vultosos, relações familiares ou empresariais que deveriam ser preservadas. Com a desculpa da falta de tempo, com uma pressa que beira a irresponsabilidade, há pessoas decidem sem se importar com eventuais prejuízos, com o agravamento de um conflito, pois se recusam em investir numa alternativa mais adequada para a solução do problema.
Visando economizar, as pessoas desvalorizam o conhecimento especializado, a consultoria isenta de interesse na conclusão do negócio e assim deliberam, muitas vezes, sem fazer cálculos e refletir.
ASSEMBLEIA DE CONDOMÍNIO E A FALTA DE REFLEXÃO
Nas assembleias de condomínio sempre aparecerem os nervosinhos, mal educados e inconsequentes que procuram impedir que os presentes ouçam as explicações que podem levar à reflexão de que o conflito decorre da falta de diálogo, desconhecimento técnico e jurídico da situação ou da má-fé de alguém que não deseja que os vizinhos sabiam a verdade sobre os fatos. Há ainda aquele que de forma imbecil grita: não queremos ouvir, estou com pressa, vamos para a justiça, o juiz é que decide! Esses de postura obtusa, ignoram o alto custo da judicialização, a demora que acaba fazendo muitos a fazer um acordo 5 anos depois, às vezes, pior do que o que seria feito antes da ação. Na realidade, um juiz que tem em média 8000 processos para julgar, ou seja, este não terá tempo e nem o mesmo interesse em decidir o assunto que levou as pessoas se reunirem, que são as principais beneficiadas pelo diálogo.
QUEM CRIA O LITÍGIO DEPOIS NEGA DIANTE DO PREJUÍZO
O entendimento requer tempo, análise dos pontos de vista, a empatia, mas alguns fala mais alto, cultivam o conflito e inibem a maioria que fica silenciosa ou omissa, apesar dessa desejar uma solução. Quando ocorre o problema, jogam a culpa nos outros ou criam com extrema rapidez e engenhosidade uma desculpa. Assumir o prejuízo, nunca! Fora de cogitação reconhecer que agiu por intuição, que deixou de ler o que deveria, e se o fez, não compreendeu o texto e os reflexos por não dominar o assunto.
Assim, rotineiramente, pessoas inteligentes e de sucesso em sua atividade, se arrependem do negócio que fizeram não terem refletido sobre as suas particularidades que não têm relação com seu dia a dia. O planejar, os cálculos, os riscos execução e a impontualidade são ignorados.
Por isso, ocorrem decisões assembleares inacreditáveis, tomadas de maneira ilógica, contra uma orientação técnica, que acabam gerando mais custos do que o necessário e desgastes entre os condôminos. Nas reuniões sem coordenação de um especialista, o desastre é uma constante, e isso tem se agravado com a nova geração “Dr. Google”, que entende de todos os assuntos, sendo expert no copiar e colar.
ORIGEM CULTURAL
Ao ler a entrevista do Doutor em ciência política, Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura de 1995 a 2002, na Folha de São Paulo, do dia 24/12/12, me chamou atenção a sua declaração: “A capacidade prática deste país de fazer sem saber é enorme. Uma vez conversei com uma figura importante na construção de Brasília. Ele comentava que tinham medo que o lago não enchesse, que as árvores não crescessem. Quase perguntei por que fizeram Brasília aqui. Eles eram de uma grande audácia e de uma enorme ignorância, mas fizeram uma imensa cidade”
É impressionante o vício de pedir desculpa por erros previsíveis, que foram apontados por alguém que participa da reunião, tendo esta sido ignorada. É comum, numa assembleia, negar o registro dos argumentos lógicos na ata, para evitar que fique evidenciado o responsável pela decisão infeliz que posteriormente resultar em danos ao condomínio.
Há ainda a demora no agir, pois ao perceber um problema, pessoas que valorizam a paz e o sossego acima de tudo, acabam perdendo seu patrimônio e aumentando seu prejuízo ao achar que é melhor espera, contar com a sorte e acaba ocorrendo a prescrição. Até quando a razão e a lógica serão desprezadas?
Belo Horizonte, 06 de dezembro de 2021.
Este artigo foi publicado no Jornal Hoje em Dia
Kênio de Souza Pereira
Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG
Vice-presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB Federal
Diretor da Caixa Imobiliária Netimóveis
Conselheiro do Secovi-MG e da Câmara do Mercado Imobiliário de MG
kenio@keniopereiraadvogados.com.br