Atualmente as pessoas vivem em um ritmo acelerado, em que as 24 horas do dia não são suficientes para solucionar as questões que envolvem o trabalho, o lazer e a família. Em razão disso, muitos deixam de ouvir o que o outro tem a dizer e buscam sempre a solução mais rápida, que nem sempre é a mais eficaz para os problemas que surgem, o que fica evidenciado em assembleias de condomínios.
A nova geração de jovens vive em um mundo próprio, no qual estão conectados 100% do tempo às redes sociais, e para eles tudo deve ser resolvido de forma imediata, pois não há tempo para o diálogo e a reflexão. Para eles, uma conversa com os vizinhos do condomínio deve ser feita por meio de aplicativo de mensagens, de forma curta e, de preferência, em linguagem informal e superficial.
Assim, a participação de pessoas com esse perfil, somada com outras que são impacientes e arrogantes, nas assembleias cria um clima tenso, pois não desejam ouvir explicações, têm pressa para ir embora, e de maneira deselegante causam interrupções constantes, agem com ignorância e truculência e se dizem ofendidos por qualquer um que ouse contrariá-los. Isso porque, não possuem a paciência necessária para buscarem uma solução para os conflitos do condomínio, que muitas vezes exigem posicionamentos fundamentados para evitar um processo judicial de alto custo e desgastante.
A função da assembleia: buscar solução racional e evitar demanda judicial
A assembleia de condomínio deve ser um momento de comunicação saudável, de troca de ideias entre os participantes, sendo fundamental calma e disponibilidade de tempo. Para fins de programação, pode-se até estabelecer uma previsão de duração para tratar cada tópico, porém, forçar a todo custo que o horário seja seguido à risca, pode impedir o direito de fala de um dos condôminos ali presentes, o que é irregular. Em algumas reuniões surgem aquele que de maneira inconsequente grita: estou com pressa, vamos discutir na justiça! O Juiz decidirá! Esse infeliz mostra desconhecimento elementar das elevadas despesas que um processo ou a sua má-fé em procurar impedir que algo de errado seja revelado para os vizinhos.
A função da assembleia é a busca pela verdade dos fatos, por meio dos quais deverá se firmar um acordo para a solução dos conflitos em pauta. Desse modo, é de extrema importância manter o clima respeitoso e amistoso e estar aberto à busca de um denominador comum, afinal, condôminos são vizinhos, pessoas com as quais convivemos diariamente. É o nosso lar, e não há nada pior do que viver em um ambiente de caos.
Quem impede o diálogo não está aberto à solução
Há aqueles que comparecem à assembleia com o objetivo de impedir que os fatos sejam esclarecidos porque isso irá lhes prejudicar de alguma maneira, ou apenas, por se tratar de pessoas que não aceitam ser contrariadas de forma alguma.
Aquele que não está aberto ao diálogo, normalmente só quer tumultuar a troca de ideias saudável que deve ser estabelecida durante a assembleia. A regra que deve pautar as assembleias e que, inclusive, poderia constar no Edital de Convocação enviado pelo síndico é: “Se não deseja contribuir, não venha à assembleia”. Isso pouparia tanto aqueles abertos ao diálogo, quanto aos condôminos da nova geração, que se contentariam com uma mensagem no grupo do condomínio informando, de forma resumida, qual foi a deliberação final da assembleia. Falar é uma necessidade, saber escutar é uma arte.
Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2022.
Este artigo foi publicado no Jornal Hoje em Dia.
Kênio de Souza Pereira
Vice-presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB Federal
Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG (2010 a 2021)
Conselheiro da Câmara do Mercado Imobiliário de MG e do Secovi-MG
kenio@keniopereiraadvogados.com.br