O período do estágio em qualquer área de estudo é a oportunidade mais valiosa de contato com a realidade da profissão na qual se pretende atuar. Porém, há aqueles que perdem a chance de se aprofundar em determinado ramo de conhecimento, por se concentrar apenas na remuneração e, assim, se esquece de focar nos objetivos de um estágio, que são: aprender, vivenciar além do banco da escola, se aprimorar profissionalmente e, talvez, ser contratado no futuro. Por oferecer uma conexão entre a teoria e a prática, quem inicia um estágio mais cedo, com a devida dedicação e empenho, aumenta a probabilidade de viabilizar sua carreira.
Diferentemente de um emprego, a finalidade de um estágio não deve ser o valor da bolsa (pagamento) recebida pelo estudante, mas sim a experiência a ser adquirida com o contato com o dia a dia da atividade. Vários são os advogados bem sucedidos que tiveram suas carreiras viabilizadas por estágios voluntários que lhes rendeu experiência. Tentar adquirir determinados conhecimentos após formado é mais difícil, pois alguns agem com arrogância ao serem solicitados a fazer serviços que um estagiário comum realiza com facilidade. Diante disso, as empresas e escritórios deixam de contratar o novo profissional que concluiu o curso por ele não ter realizado um estágio de maneira adequada para que pudesse exercer a profissão.
Qual critério usar para se candidatar a um estágio?
São comuns os casos em que o estudante fica em dúvida sobre para qual vaga de estágio deve se candidatar, diante da especificidade de cada área. No Direito, por exemplo, encontram-se oportunidades na Administração Pública, no Ministério Público, na Defensoria Pública, nos Tribunais, na área bancária/comercial e nos escritórios de advocacia, sendo que nesses há uma grande diversidade de seguimentos: direito de família, tributário, civil, penal, imobiliário, entre outros.
O candidato ao estágio que não tem foco em seu objetivo de carreira pode fazer escolhas equivocadas se pensar apenas no dinheiro. Se pretende prestar concursos públicos, atuar em balcões de secretárias da Administração pode ser interessante, pois permitirá conhecer o ambiente e trocar experiências com pessoas que trilharam o caminho pelo qual deseja passar. Entretanto, se sonha em advogar, não faz sentido perder tempo e energia se dedicando a uma função diferente, sendo ideal que não apenas busque oportunidades nos escritórios, mas principalmente na área de atuação lhe interessa. Um dos maiores pecados da nova geração é o imediatismo, pois muitos esquecem que uma carreira demora, em média 10 anos, para ser viabilizada e que o Google e a tecnologia não redigem ou pensam pelo profissional.
Quem planta e cria raízes colhe bons frutos
Diante do fato de que o maior interesse de alguns estudantes é a remuneração do estágio, qualquer proposta financeiramente melhor se torna atraente, sendo que esse aprendiz tende a mudar de estágio de acordo com quem paga mais. Porém, agindo assim, além de causar prejuízos ao local que abandonar, onde teve investimento de tempo e dinheiro e a dedicação de quem o acolheu, inviabiliza sua carreira, pois só obtém conhecimentos superficiais e deixa de se aperfeiçoar em uma área.
O fato é que a maioria dos estagiários tem agido como na escola, ou seja, só buscam ter o diploma e se esquece que na vida profissional deve acertar 100% e não apenas os 70% que se exige nas provas para concluir o semestre acadêmico. Nenhum cliente perdoa erros, pois a pequena falha leva o processo ou o trabalho ao insucesso e quem contrata um profissional exige resultado positivo, nada menos que isso. Pedir desculpa por errar 5% não resolve, o prejuízo tem que ser pago e o que vemos é o culpado se esquivar do dano que causou. Assim, o estagiário deixa de criar uma imagem que o efetive na empresa ou que motive que qualquer profissional seja indicado para novos clientes.
Infelizmente, tem sido fácil encontrar profissionais “medianos” no mercado, sendo pessoas que atendem clientes com qualquer tipo de demanda, mesmo que não dominem o assunto sobre o qual a atuação será necessária. Assim, surgem milhares de profissionais generalistas, que sabem um pouco sobre cada assunto de maneira superficial e por isso cometem equívocos que só seriam aceitáveis no estágio. Isso é o que ocorre com o estagiário “nômade”, com o agravante de que ao se lançar no mercado após concluir os estudos, diante da falta de experiência aprofundada, poderá gerar ou aumentar o prejuízo da pessoa que lhe confiar um serviço.
Belo Horizonte, 21 de março de 2022.
Este artigo foi publicado no Jornal Hoje em Dia.
Kênio de Souza Pereira
Vice-presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB Federal
Conselheiro do Secovi-MG e da Câmara de Mercado Imobiliário de MG
Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG (2010 a 2021)
Diretor Regional em MG da ABAMI – Associação Brasileira de Advogados do Mercado Imobiliário