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CUSTO DE VIDA E A ESCOLHA DO BAIRRO ONDE VOCÊ MORA

O bairro onde você mora afeta seu custo de vida e também seu estilo de viver

   Seu custo de vida tem relação direta com o local onde você mora. Onde morar ou trabalhar? Esse dilema não é tão simples de resolver. Não é somente o valor do imóvel, suas dimensões, acabamento e equipamentos que determinam a decisão. Escolher onde morar determina um “estilo de vida” e implica em situações que afetam o bolso e as relações familiares. Em geral, a maioria das pessoas prefere morar ou trabalhar na zona sul, sendo essa a região mais nobre em grande parte das cidades brasileiras.

   Muitas pessoas gostam de conforto, de poder ser vista de forma diferenciada. Em Belo Horizonte a zona sul está localizada entre os bairros Gutierrez e São Lucas, subindo até a região do BH Shopping.  Certamente, é a região mais valorizada, sendo sinônimo de status por ser bem frequentada. Entretanto, há outros bairros e locais na cidade com ocupação semelhante e boa infraestrutura.

   O fato de concentrar as pessoas de maior poder aquisitivo, nível educacional e cultural faz com que a zona sul receba maiores investimentos, tanto do governo quanto da iniciativa privada. Diante disso, essa região proporciona melhor infraestrutura, que se traduz em mais comodidade, limpeza, transporte coletivo, segurança, iluminação pública e saneamento eficiente, vias de acesso bem dimensionadas e conservadas, equipamentos urbanos modernos, escolas, comércio e serviços mais próximos e de melhor qualidade.

Local de moradia determina outros gastos

   Ao mudar para um bairro sofisticado, uma família pode acabar sofrendo pressão para mobiliar o apartamento com um “alto padrão”, dotando-o de móveis caros, quadros de pintores famosos, tapetes persas para compor com o piso de granito, tv e internet a cabo e até trocar o carro por outro mais moderno. Além disso, poderá arcar com a mensalidade de valor mais elevado da escola dos filhos, pois eles preferirão estudar na mesma escola que os vizinhos.

   É comum as crianças que passam a frequentar escolas de elite serem influenciadas pelos colegas acostumados a viajar frequentemente para o exterior, promover grandes festas, usar roupas de grife e acessórios caros, motivados pela mídia que impõe o consumo, exigindo de seus pais o mesmo tratamento, elevando ainda mais o custo de vida. Às vezes, os pais sofrem ao ver seu filho adolescente sentir “vergonha” da sua condição social, por não conseguir atender às futilidades e seus desejos de consumo, criando assim conflitos.

Quota de condomínios de até R$ 4 mil

   Os moradores dos edifícios luxuosos – para manterem seu padrão de vida –  acabam trabalhando o dia todo, sendo comum ocupar os filhos com aulas de inglês, natação, piano, prática de esportes, clubes, etc. Além disso, vemos apartamentos, salas ou lojas com valor de quota de condomínio que oscila entre R$1.500,00 e R$4.000,00 por mês, que somado ao IPTU, muitas vezes supera o que muitos adquirentes pagam de prestação de uma casa própria.

   Enfim, a escolha de onde morar pode acarretar despesas inesperadas para aqueles que acham que somente o valor do imóvel determinará seus gastos, seu custo de vida. Ao residir em determinada região, os familiares acabarão se relacionando com os vizinhos, podendo assim influenciar nos seus hábitos de consumo, resultando na alteração de seu orçamento doméstico. Da mesma forma, o inverso é verdade. Mudar de um bairro sofisticado para outro mais simples pode ser uma boa opção para economizar e se livrar da pressão do consumo desenfreado representada pela vizinhança sem que, necessariamente, caia a qualidade de vida.

Local influencia nos relacionamentos

   Às vezes a falta de adaptação ao estilo de vida pode ocasionar graves problemas, acarretando até mesmo a separação de casais, a mudança de hábitos de lazer e o fim de relacionamentos, namoros e amizades com aqueles que não conseguem acompanhar o “padrão de vida” determinado pela “turma” ou pelo companheiro.

   Todavia, por outro lado, o inverso também é possível, pois ao mudar de um bairro simples para uma região mais seleta, a família terá mais chances de conhecer empresários, executivos, que poderão no futuro gerar novos relacionamentos e oportunidades de negócio, assim como render aos filhos, na fase adulta, contatos influentes que talvez “abram novas portas”.

   Abordar esses aspectos é delicado, há radicalismos ou preconceitos que distorcem a análise racional da situação. Vemos alguns tabus com base na orientação de “não ser politicamente correto” dizer determinadas verdades. É facilmente compreensível que uma pessoa simples, que cresceu num aglomerado, após alcançar sucesso financeiro, prefira construir uma mansão num bairro de periferia, pois ali se sente melhor e importante. Essa situação seria bem diferente se mudasse para um bairro de alto padrão, onde suas limitações poderiam ser expostas por alguns da região sul que se podem se sentir incomodados com a capacidade de trabalho do novo morador que melhorou de vida.

Influência sobre clientes

   Já na área profissional, alguns edifícios sofisticados se destacam por serem ocupados por advogados, médicos, dentistas, psicólogos, enfim para determinados ramos, onde há troca de experiências e de clientes indicados por suas especialidades. É interessante observarmos a influência sobre os clientes que às vezes julgam a competência do profissional com base no padrão da fachada do edifício, na sua localização e até nos móveis e decoração.

   Cabe a cada um pensar e refletir sobre prós e contras na escolha do local que irá residir ou trabalhar. Deve levar em conta sua situação socioeconômica, o custo de vida, seus valores, bem como seus objetivos e com quem e porque deseja se relacionar.

 

Kênio de Souza Pereira. 

Diretor da Caixa Imobiliária Netimóveis.

Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG.

Conselheiro da Câmara de Mercado Imobiliário de MG e do Secovi-MG.

keniopereira@caixaimobiliaria.com.br