Uber tem motivado reflexão sobre o tempo, renda e emprego
As pessoas entram no mercado de trabalho sem saber como funciona a criação de renda, pois as faculdades não ensinam a produzir, se limitam à teoria, sendo focado apenas o emprego. Uma pequena parcela almeja trabalhar por conta própria, ser empreendedora, mas ignora que na maioria dos casos deverá ter um capital inicial e trabalhar mais do que o padrão, tendo que esperar anos para consolidar seu nome ou seu negócio para conseguir o rendimento almejado.
Muitos sofrem na carreira por não entender a necessidade de ser disciplinado, de ter que estudar e aprimorar o conhecimento após o horário de trabalho, pois sem esforço e persistência dificilmente conquista-se uma melhor condição, especialmente diante da concorrência acirrada. Compreender como funciona o tempo, o que é prioridade e foco para alcançar um objetivo é um desafio. Parte da geração Google insiste em acreditar que os negócios, se realizam mediante o simples apertar um botão. Rejeitam a necessidade de elaborar trabalhos que exijam estudos, reflexões e diversos atos necessários para gerar um resultado. Se não for obtido de imediato, mediante uma simples troca de mensagens na internet, facebook ou no WhatsApp, não serve.
Há pessoas que nada fazem, que mesmo estando em casa à toa, quando são solicitadas pelos pais ou por quem as sustenta para fazer alguma coisa, logo dizem que estão sem tempo, que têm muita coisa para resolver. Sentem-se no direito de só ter benefícios. Cultua-se a ideia que trabalhar oito horas por dia (incluindo as duas horas gastas no celular) é muito. É lamentável que muitos vinculem o local de trabalho a uma coisa ruim, o que motiva tantos atrasos na chegada e uma verdadeira aflição para o fim do expediente. Essa postura contribui para os erros na execução das tarefas, os prejuízos com o retrabalho que resulta na perda de clientes. E corrigir isso não é fácil, pois os que lutam para crescer dentro da empresa são, às vezes, sabotados. As lideranças negativas pioram o ambiente laboral, pois taxam de puxa-saco quem é sério e deseja ajudar a empresa crescer. Formam-se grupos que parecem um time adversário, como se não fossem pagos pelo empregador.
O resultado é o crescimento do número de empresas que fecham em pouco tempo com a ajuda daqueles que promovem o desperdício, que adoram emendar os feriados, esticar os lanches e os almoços como se estivesse de férias. O problema é que se esquecem de captar novos clientes e de tratar bem os que prestigiam a empresa e somente quando estão desempregados é que percebem que os rendimentos vêm desses “chatos” que ficam ligando e cobrando um retorno.
Os aplicativos para motorista de transporte privado estão provando uma realidade sobre a relação tempo de trabalho e renda. O motorista para conseguir uma renda de R$2.800,00 a R$3.600,00 tem que trabalhar 12 horas ou mais por dia. Não existe motorista – que só tem essa fonte de renda – que trabalhe oito horas diárias, pois no final não sobraria nada após o desconto dos 25% e os custos com gasolina e alimentação, sendo que ainda tem que separar um valor para a troca do veículo que tem grande desgaste, caso não pague aluguel mensal de R$1.600,00 para uma locadora de automóveis.
Ao assumir ser autônomo, a pessoa não tem mais como colocar a culpa no patrão, reclamar da empresa como se essa fosse culpada de suas limitações ou falta de energia em agir. Não pode mais se beneficiar com atestados médicos que utilizava para passear e percebe que produzir é o que importa, pois se enrolar não fatura, ficando assim inadimplente. Passa a entender a razão dos patrões ficarem aflitos com os erros e a falta de compromissos dos colaboradores que achavam que a empresa faturava muito e com facilidade. Somente nessa situação muitos percebem que a ter uma empresa no Brasil é um desafio. O Governo as sobrecarrega com impostos, obrigações e lhe impõe todo o risco do negócio a ponto de penaliza-las com multas por dispensar empregados por ter dificuldade em manter seu negócio diante o desaquecimento da economia ou por não produzirem, como se tivessem que aceitar quem não tem compromisso.
Nada melhor que ser autônomo para ver como um privilégio ter serviço, passando a valorizar o cliente que antes era tido como incômodo. Só depende de nós, seja como empregado ou autônomo, oferecermos algo diferenciado, acima do comum, com competência, para conquistar nossa felicidade e uma renda compatível com nosso esforço.
Esse artigo foi publicado no Jornal o Tempo.
Belo Horizonte, 19 de março de 2020.
Kênio de Souza Pereira
Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG
Diretor da Caixa Imobiliária Netimóveis
Vice-presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB Federal
Conselheiro do Secovi-MG e da Câmara do Mercado Imobiliário de MG
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