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PREPARE-SE E EVITE UM PROCESSO JUDICIAL, ABORRECIMENTOS E PREJUÍZOS

   Um dos maiores erros que cometemos no dia a dia é pensar que os outros são iguais a nós, ou seja, que a pessoa com quem contratamos, negociamos, convivemos e nos relacionamos agirá da mesma forma que agiríamos, com base nos mesmos valores e sentimentos. Essa postura é o marco inicial para nos decepcionarmos, pois perante uma situação há várias alternativas, sendo comum haver mais de uma plenamente defensável.

   O ser humano tem uma enorme capacidade criativa e diante de um erro, situação de risco ou de prejuízo, nos surpreende com justificativas que até pessoas mais experientes e vividas ficam perplexas. Para obter lucro ou não pagar um prejuízo surgem motivos ou explicações que causariam vergonha a quem é sério e honesto, mas tais qualidades desaparecem em alguns momentos.

FORMALIZAR AS RELAÇÕES ESTIMULA O RESPEITO

   A sabedoria nos orienta a evitar problemas, sendo importante sermos mais formais, registrar tudo de maneira a não deixar dúvidas, conversar até esgotar o assunto, pois é justamente nas obscuridades que ocorrem as polêmicas. Quem tem vergonha de perguntar contribui para que a outra parte faça, depois, o que bem entender ou crie desculpas.

   Quando estamos diante de um anúncio, devemos observar tudo, pois este pode vir a configurar propaganda enganosa, que é vedada pela lei. É importante compreender que a partir do momento da aceitação de uma oferta para contratar um serviço ou adquirir um bem, se inicia um negócio jurídico, que poderá vir a ser objeto de um processo judicial, caso ocorra algum inadimplemento. Assim, as promessas, a publicidade e os argumentos que levaram o cliente a comprar ou contratar um serviço devem fazer parte do contrato com redação clara e detalhada das circunstâncias que levaram à conclusão do negócio.

   Tendo o contratante alguma dúvida, o bom senso e a sabedoria indicam ser prudente, contratar um especialista sobre o tema (contador, advogado, engenheiro, médico, técnico) para esclarecer as cláusulas do contrato, pois uma simples palavra pode resultar num grande prejuízo para a parte que assinou sem entender ou deixou de inserir cláusula que protegesse seu direito.

Como evitar o Poder Judiciário

   Refletir e perceber que o negócio poderá gerar prejuízo, aborrecimentos e vir a se transformar em um processo judicial demorado, caro e desgastante é que nos estimula a tomarmos mais cuidados. Assim, evitamos um problema futuro. Isto porque, quem age com cautela e valoriza uma orientação prévia profissional descobre os riscos e não fecha o negócio, exceto se for seguro.

   A questão é simples: quando uma pessoa é mal intencionada e visa somente obter lucro, ela simplesmente rejeita formalizar o que combinou, tendo uma conversa sedutora.

   Todavia, tem pavor de advogado que possa orientar o cliente. Diz que tudo é simples, que é bobagem contratar uma consultoria, pois apenas gera despesa. Assim, faz a transação mediante um contratinho simples ou confuso, próprio para fundamentar um “balaio de desculpas” e para justificar o prejuízo, tais como: “não foi isso que eu disse”, “você entendeu errado”, ou “não posso responder pelo que outra pessoa disse”.

Clareza evita surpresas

   Quando o contrato é realizado com a devida profundidade e conhecimento, com as penalidades adequadas, a parte que age com má-fé não aceitará a cláusula e assim não assinará o contrato.

   É comum, quando um especialista assume a orientação do caso, a parte “esperta” mudar de postura, sumir ou passar a agir de maneira séria, já que sabe que será desmascarada, caso não atenda aos pedidos de esclarecimentos.

   Com um contrato bem elaborado ela ficará inibida em desrespeitar o cliente, pois saberá que será mais barato cumprir sua obrigação do que enfrentar um Juiz que a sentenciará de maneira exemplar, já que o contrato não dará margem para desculpas.

 

Belo Horizonte, 14 de fevereiro de 2022.

Este artigo foi publicado no Jornal Hoje em Dia. 

 

Kênio de Souza Pereira

Advogado e vice-presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB Nacional

Conselheiro da CMI-MG – Câmara de Mercado Imobiliário de MG e do SECOVI-MG

Diretor da Caixa Imobiliária Netimóveis

kenio@keniopereiraadvogados.com.br