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FIQUE ATENTO À TAXA DE JUROS AO FINANCIAR IMÓVEL

DÍVIDA PODE CRESCER APESAR DO PAGAMENTO DAS PRESTAÇÕES

   As pessoas devem ficar atentas para as dívidas oriundas dos contratos de financiamentos imobiliários, que possuem valores expressivos e são contratados com prazos longos, muitos em torno de 10 a 35 anos. O problema é que até em contratos de loteamentos e de unidades na planta, com prazo mais curto tem aumentado a inadimplência pelo fato da maioria das pessoas não entenderem sobre a evolução da dívida.

   O financiamento imobiliário pode parecer vantajoso na hora de comprar, mas é importante refletir sobre o teor do contrato que está para ser assinado, pois envolve valores altos e há casos em que são previstos além da correção mensal (INCC, CUB, IGP, IGP-M, INPC, IPCA), o juro de 1% ao mês, sendo que esse juro anual de 12% é que leva o valor da dívida aumentar mais do que o preço do imóvel no cenário atual. Muitos assustam ao ver que após pagarem dezenas de prestações continuam a dever mais que o valor que pegou emprestado.

   O brasileiro não tem costume com as regras de matemática financeira e deixa de fazer cálculos antes de contratar o financiamento. Por isso, alertamos as pessoas ser melhor poupar o maior valor possível para dar de entrada e financiar somente o que for essencial pelo menor número de parcelas, pois dessa maneira terá maior segurança quanto à capacidade de manter a pontualidade.

   Durante o boom imobiliário, ocorrido entre 2006 e 2013, os imóveis estavam subindo muito de valor, sendo que no ano de 2010 teve imóvel subindo cerca de 20% ao ano. E, em contrapartida, a taxa de juros do financiamento da Caixa Econômica Federal era de 10% ao ano, o que levavam as pessoas a terem um lucro ao financiar o imóvel. Aquele momento consistiu numa anomalia, sendo que atualmente não há como o imóvel subir tanto de preço.

 COM INFLAÇÃO BAIXA O VALOR DOS JUROS PESA MAIS

   Contudo, o cenário econômico mudou e hoje o financiamento apresenta maior risco para o mutuário, sendo comum em alguns casos o valor pago no decorrer de décadas superar em mais de 200% o valor inicial do imóvel. A previsão de juros no financiamento faz o valor da dívida aumentar mais do que evolução do valor do imóvel.  Como exemplo, cito o caso de um financiamento no valor de R$300.000,00, sendo que levando em conta a inflação mensal de 0,4%, acrescida do juro de 1% ao mês, caso o devedor pague no mês R$5.000,00, amortizará apenas R$788,00 da dívida, já que R$4.212,00 consiste em juros e correção. Dessa forma, passará a dever R$299.212,00.

   São nesses momentos que as pessoas percebem que redigir contrato exige expertise, pois ao concluir qualquer transação, especialmente com imóvel que envolve valor expressivo, é necessário muito conhecimento e técnica para elaborar cláusulas que podem ser decisivas para evitar transtornos e prejuízos.

   No caso do contrato com taxa de juros de 12% capitalizada com a inflação de 5% ao ano, sobre uma dúvida de R$500 mil, significa que esse montante aumentará R$88 mil por ano, ou seja, R$7.333,00 por mês. Caso o mutuário pague R$8.000,00 por mês não amortizará nem R$500,00, pois terá ainda que pagar os custos com o seguro de vida e do imóvel.

   Em caso de inadimplência é importante os mutuários buscarem assessoria jurídica especializada, pois existem mecanismos de negociações com os bancos para evitar a perda da sua casa, sendo possível incorporar o saldo devedor ao débito restante e fazer a repactuação, a fim de que o mutuário possa honrar o compromisso e evitar a perda do seu imóvel.

 

Belo Horizonte 24 novembro 2019

 

Este artigo foi publicado no Jornal Hoje em Dia.

 

Kênio de Souza Pereira

Vice-presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB Federal

Conselheiro do Secovi-MG e da Câmara do Mercado Imobiliário de MG

Membro do Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário – IBRADIM