A crise provocada pela pandemia do Coronavírus gerou dificuldades financeiras para os mais diversos tipos de negócio, havendo muitas pessoas, em especial, empresários e comerciantes com bom senso para contornar a situação, talvez por saberem o custo de um processo. Por outro lado, há casos de conflitos que têm surgido por falta de diálogo ou em decorrência de uma reflexão de longo prazo, pois a pressa em resolver a questão ou a falta de paciência em se colocar no lugar do outro tem levado a desgastes desnecessários. Para provar que isso acontece basta vermos as centenas de processos judiciais que se arrastam por anos, que após consumirem despesas com advogados, custas processuais e perícias, as partes, cansadas pela energia dispendida no caso, acabam chegando num acordo numa audiência.
Várias são as situações de embate em que, com o passar do tempo, amadurecemos, mudamos de posição, passando a prevalecer o entendimento. Isso ocorre rotineiramente nas relações de locação e compra de imóveis, nos problemas entres os vizinhos nos edifícios (eleição síndico, rateio de despesas, vagas de garagem, inadimplência, prestação de contas, etc), nas questões de vizinhança (barulho, infiltrações, animais domésticos), enfim, são as mais variadas situações que acarretam choques de posicionamento.
Entretanto, a sabedoria indica que antes de impor um ponto de vista, do orgulho ou do interesse em obter vantagem devemos usar a empatia, a boa-fé, a serenidade e a lógica matemática. Vale a pena financeiramente e emocionalmente insistir ou impor minha pretensão? É viável ceder ou deixar de trocar de ideias em busca de uma solução negociada, que evite um rompimento ou perda de uma boa relação comercial ou de vizinhança? Será que eu aceitaria minha proposta se estivesse do outro lado? O outro lado tem razão? É honesta, justa e digna a minha pretensão ou posição? Fiz os cálculos para ver os possíveis cenários, alternativas e consequências para optar pela melhor solução, que possa preservar a relação e evitar o conflito?
O grande problema é que a cada dia as pessoas estão mais aflitas ou fechadas dentro do seu mundo, focadas nos seus pensamentos. Deixam de ouvir os argumentos dos outros com espírito desarmado, com o desejo de contornar o problema. Pecam ao tratar assuntos complexos por meio de e-mails enigmáticos, mensagens superficiais e utilizam o WhatsApp de forma infeliz, dando margem a mal entendimentos e dúvidas, por escrevem menos que o necessário. A situação se torna mais complicada diante da ausência de cálculos, pois a matemática tem sido ignorada em diversas negociações, o que impede o esclarecimento dos valores envolvidos, a defasagem ao protelar ou a lucratividade em obter uma solução rápida.
Em uma negociação vários tipos de conhecimento são exigidos, sendo comum uma pessoa talentosa e inteligente numa determinada área ou profissão tomar atitudes que a prejudique por não busca entender os custos de uma demanda judicial. Não basta entender a lei, pois há os reflexos processuais, despesas e decisões judiciais que podem surpreender. Nesse cenário confuso de IGP e IGP-M superando cinco vezes a inflação oficial medida pelo IPCA, percebe-se que alguns que têm ignorado a lógica e a matemática criam os próximos conflitos que poderiam ser evitados.
Esse artigo foi publicado no Jornal Diário do Comércio.
Kênio de Souza Pereira
Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG
Vice-presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB Federal
keniopereira@caixaimobiliaria.com.br